“A cada manifestação vamos ser maiores, a cada luta, a cada vitória. Nós temos coragem para por a cara na rua e não caímos na ladainha da imprensa que diz que a juventude é alienada”, com essas palavras o presidente da UNE, Daniel Iliescu, recebeu os 3 mil jovens que lotaram a Praça da Sé nesta terça-feira (26/03), na capital paulista, para o ato estadual da Jornada de Lutas da Juventude.
A manifestação reuniu diversas entidades e movimentos sociais, jovens do interior do estado, de Franca, São Carlos, Ribeirão Preto, Araras e Piracicaba, de diversas escolas e instituições da cidade, que pela primeira vez estão de forma unificada reivindicando avanços para a juventude brasileira.
Léa Marques, da Secretaria Nacional de Juventude da Central Única dos Trabalhadores (CUT), destacou em sua fala que é unida que a juventude vai conseguir construir o Brasil e a São Paulo que querem. “A juventude tem direito a uma educação de qualidade e a um trabalho decente. Não apenas motoboy e telemarketing, ou estágios que não pagam nada”, defendeu.
A jovem Maria Júlia Monteiro, da Marcha Mundial das Mulheres, afirmou que a luta da juventude é também uma luta feminista, porque a juventude é uma só. “A luta é também das mulheres que querem 10% do PIB para a educação. Estamos na rua para lutar por um projeto feminista e popular”, afirmou.
Também presente na passeata, o deputado federal Protógenes Queiroz garantiu seu voto a favor dos 10% do PIB para a educação e afirmou que o investimento no setor também abonaria os problemas do sistema penitenciário do Brasil. “Qual a saída para este país de miséria, de violência, dos desalojados, dos sem terra? Temos que educar para não ser corrompidos e para não corromper”, ressaltou.
Para o coordenador do coletivo de juventude do MST, Raul Amorim, realizar as transformações necessárias no nosso país só serão possíveis com a articulação entre o campo e a cidade. “A juventude é a protagonista e tem que tomar as ruas para pedir as mudanças estruturais que o Brasil pede. Estamos passando pelo momento de maior enfrentamento nacional da reforma agrária. O nosso projeto não é apenas de democratização da terra, mas de todo o direito do jovem permanecer na sua terra”, explicou.
Existe luta em SP
Os jovens percorreram as ruas do centro, passaram em frente à prefeitura municipal, onde cobraram a aprovação do passe livre, e pararam na Praça da República, em frente a Secretaria da Educação do Estado, entoando palavras de ordem e pedindo para serem recebidos em uma reunião. Também realizaram intervenções artísticas durante o percurso que lembraram o assassinato de jovens, principalmente os negros, e a discriminação com as mulheres.
Na cidade de São Paulo, os destaques entre as lutas são pela reserva estadual de vagas com a campanha “Cotas sim, Pimesp não”, passe livre para o estudante prounista e o combate ao extermínio da juventude negra. As reivindicações também incorporaram as bandeiras nacionais, como a defesa dos 10% do PIB para a educação e a redemocratização dos meios de comunicação.
O jovem Júnior Rocha, do Levante Popular da Juventude, lembrou os números sobre as diferenças raciais na universidade brasileira hoje. Segundo ele, negros e mestiços são apenas 2% dos universitários formados. “Estamos menos na universidade e mais na mão da polícia. Quando reivindicamos universidade o que nos empurram é o Pimesp, dizendo que somos estudantes de segunda classe”, afirmou.
Sobre o Pimesp ainda, a presidente da União Paulista dos Estudantes (UPES), Nicoly Mendes, afirmou que é “uma declaração que o ensino médio do governo de São Paulo não presta para nada”.
O Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp) prevê que, até 2016, 50% das vagas de cada curso sejam destinadas aos alunos que cursarem integralmente o ensino médio em escolas públicas. A polêmica está na exigência de que esses estudantes ingressem a partir de um curso preparatório com duração de dois anos, uma espécie de “college”.
Vitória da Jornada
Parados em frente à Praça da República, os estudantes receberam a notícia que seriam recebidos pelo Secretário de Educação do Estado, Herman Jacobus Cornelis Voorwald. Uma comissão de jovens também foi recebida pela vice-prefeita Nádia Campeão e pelo Secretário de Governo Municipal Antonio Donato. Eles entregaram uma carta reivindicando entre outras questões o passe livre para estudantes prounistas.