A poucos metros da Praça da Sé, coração de São Paulo, já era possível ouvir vozes que entoavam em uníssono ‘’sou estudante, quero estudar’’. Essa união de vozes construía a etapa paulista da chamada Jornada de Lutas da Juventude Brasileira que na manhã desta terça-feira (26/3) coloriu as ruas da cidade com muita combatividade e irreverência.
Palavras de ordem, intervenções artísticas e até “harlemshake” agitavam a manifestação preparada por diversos movimentos sociais como a União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), União Paulsita dos Estudantes Secundaristas (UPES), União Estadual dos Estudantes (UEE-SP), Levante Popular da Juventude, Movimento dos Sem-Terra (MST), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Juventude da CUT, entre outros.
Em meio à multidão, uma figura pequenina chamava atenção. Eduarda Anzolin, 16 anos, estudante da ETEC Getúlio Vargas apreciava atenta a movimentação. ‘’Percebi que a Jornada é realmente muito importante porque assim como conseguimos acabar com a ditadura, podemos conseguir melhorar as escolas e o ensino no Brasil’’, contou.
Participando da Jornada pela primeira vez, a jovem procurava se integrar aos veteranos.
Ao mesmo tempo, segurando bandeiras e entoando palavras de ordem, Vivian Souza, integrante da UNE , participava ativamente. ‘’ Eu acho que dessa forma, com toda essa unidade que foi construída, será mais fácil de mostrarmos aos nossos governantes que a juventude está lutando junta por um ideal’’, falou.
Com a passeata seguindo rumo à Praça da República, Mário Pereira, mais conhecido como Toddynho, integrante do Conselho da Comunidade Negra da cidade de Araras, batucava um dos tambores que seguia o carro de som. ‘’ É só com essa união que iremos fazer a diferença, é lindo de se ver’’ salientou.
Já os amigos Thomas Zartori e Rafael Bueno não tocavam tambores, mas empunhavam seus skates no ar ao acompanhar a caminhada. ‘’Misturando todo mundo é que a gente vai fazer uma revolução’’, contaram no estilo skatista de ser.
DE SÃO PAULO PARA O BRASIL
E a Jornada da Juventude paulista não ficou restrita aos que puderam comparecer à Praça da Sé. Participantes do movimento Fora do Eixo transmitiram a manifestação por meio de uma TV improvisada com carrinho de supermercado, gerador, computador portátil, câmeras e caixa de som. ‘’É a Póstv, uma televisão que reinventa e potencializa a conhecida tecnologia do streaming (transmissão de vídeo pela internet). Como a jornada é nacional, torna-se um meio de propagar o acontecimento’’, contou Felipe Peçanha.
Durante todo o percurso a juventude não desanimou. Mesmo debaixo de garoa, as palavras de ordem tomavam as ruas. Uma intervenção teatral protestou contra o extermínio da juventude negra e a violência contra a mulher. Caixões de cartolina foram espalhados pelas vias.
‘’A Jornada veio no momento certo para extrapolar as pautas específicas e adquirir ganhos concretos’’, disse Juliane Furnos, do movimento Levante Popular da Juventude.
FIM DA JORNADA, INÍCIO DE MUITOS SONHOS
A etapa paulista da Jornada da Juventude Brasileira teve um final memorável, com um grande ato em frente à secretaria da educação do estado. Pedindo pelo fim do racismo, shows de rap embalaram as reivindicações em favor das cotas nas universidades. Mc John Miller e Mc Fi, integrantes do grupo Veneno H2, foram os encarregados da trilha sonora. ‘’Nós fazemos parte do MST, moramos em assentamento e somos filhos de assentados. Ser um jovem do campo e ao mesmo fazer esse som tão urbano que é o rap, mostra como a juventude pode estar sim unida hoje em dia’’, destacou John Miller.
Com muita pressão e barulho, os estudantes conseguiram ser recebidos pelo secretário de educação do estado. Enquanto isso ainda era possível ver Eduarda, já enrolada em uma bandeira da UNE, ao término da sua primeira passeata.
‘’Estou muito feliz de estar aqui e de ter participado disso’’, contou, ainda com o olhar admirado dos que acreditam e sonham com a construção de um Brasil melhor.